Intitulada In Conflict, a participação de Portugal na Bienal de Arquitetura de Veneza 2021 tem curadoria de Carlos Azevedo, João Crisóstomo e Luís Sobral, do escritório depA architects, com participação de Miguel Santos como curador adjunto, e lança luz sobre o espaço público enquanto palco de forças opostas, confronto de ideias e coexistência social. Respondendo diretamente à questão "como viveremos juntos?", posta pelo curador geral da Biennale Architettura, Hashim Sarkis, a participação portuguesa foca em sete projetos de habitação coletiva que foram alvo de confronto e discussão pública.
O projeto curatorial volta seus olhos para o espaço democrático, sua construção, suas tensões e, como muito se fala atualmente, sua falência, catalisada pela pandemia global de coronavírus que vem limitando há mais de um ano o uso e permanência em espaços públicos do mundo inteiro. Interessa aos curadores, ainda, analisar o espaço público enquanto possibilidade de construção coletiva, abarcando as divergências e a polarização de ideias.
Para que o espaço democrático seja efetivamente aquele que melhor responda às nossas necessidades, temos que continuar a dar voz a todos. Não pode ser um sistema gerido a partir de um falso consenso. O consenso nunca existiu, e a vantagem da democracia é que ela permite que essa falta de consenso se manifeste. Portanto, queremos manifestar esta falta de consenso. Aqui vamos encontrar projetos que são pouco consensuais. – depA architects
A participação portuguesa está dividida em duas partes: exposição e debates. A primeira aborda o período da democracia portuguesa a partir de sete processos marcados por destruição material, deslocação social ou participação popular. Visando tornar acessível a mensagem por trás da mostra, os curadores procuram apresentar a arquitetura "de uma forma menos disciplinar, desde logo através da seleção de um conjunto alargado de projetos midiáticos, que foram alvo de um amplo debate público e que tiveram um grande eco na imprensa." Estes projetos lidam com a questão habitacional, um "direito básico, cuja análise profunda permite revelar as fragilidades a superar pela nossa sociedade".
Para vivermos em conjunto temos que viver em ação. Portanto, temos que debater e temos que dar voz a todo o conflito que a arquitetura gera. É isso que nos permite construir o espaço democrático, o espaço da ação, que, ao fim, permite resolver questões do modo mais pacífico possível. Ou, por outro lado, a discussão evidencia processos em aberto, o que só mostra que os problemas não estão resolvidos. É isso que nos interessa mostrar aqui. – depA architects
A outra face da participação de Portugal na Bienal consiste nos debates, coordenados por uma equipe multidisplinar composta por Ana Jara, Anna Puigjaner, Fernanda Fragateiro, Jorge Carvalho, Miguel Cardina e Moisés Puente. Seis dos eventos que fazem parte desta seção foram selecionados através de uma chamada internacional que tinha como objetivo atrair outras vozes para a discussão proposta pelos curadores.
A mostra portuguesa, assim como todas as participações nacionais na Biennale Architettura 2021, permanece aberta até 21 de novembro. Leia a entrevista que realizamos com os curadores do pavilhão português aqui.
As citações no texto foram extraídas de entrevista realizada por Joanna Helm aos curadores em Veneza, gentilmente cedidas ao ArchDaily.
Confira a abrangente cobertura da Bienal de Arquitetura de Veneza 2021 realizada pelo ArchDaily. Não deixe de assistir à nossa playlist oficial no Youtube, onde apresentamos entrevistas exclusivas com arquitetas, arquitetos e curadores da Bienal.